Encontro, que integra Projeto Cultivando Futuros, foi realizado em Poço Redondo e  debateu o tema como estratégia de fortalecer a rede de pequenos produtores da região

“Se o campo não planta, a cidade não janta!”. Esta e outras palavras de ordem permearam a IV Oficina Municipal do projeto Cultivando Futuros, realizada no município de Poço Redondo (SE) nesta terça-feira, 19. O encontro foi voltado para o debate acerca dos mercados acessados pela agricultura familiar, como estratégia de fortalecer as redes de pequenos agricultores e agricultoras da região e ampliar o acesso da população a produtos da agricultura familiar.

O projeto é uma iniciativa da AS-PTA, Rede ATER NE de Agroecologia e da organização de cooperação internacional Pão para o Mundo (Brot fur die Welt, em alemão), com financiamento do Ministério Federal da Alimentação e da Agricultura da Alemanha (BMEL, na sigla em alemão). Em Sergipe, a execução é feita pelo Centro Dom José Brandão de Castro, Organização da Sociedade Civil (OSC) que conta com mais de 30 anos de experiência na atuação junto a pequenos/as agricultores/as e à população do campo, seja no assessoramento técnico, seja na defesa e garantia de direitos.

Durante o encontro, representantes do poder público local e da sociedade civil organizada que atuam no campo da agricultura familiar – como sindicatos dos trabalhadores rurais, articulação do semiárido, associações comunitárias, grupos de mulheres e jovens – identificaram os alimentos produzidos pela agricultura familiar do município e em quais mercados são comercializados atualmente, refletiram sobre as características dos diferentes tipos de mercados acessados e avaliaram coletivamente as contribuições recentes das políticas públicas para a promoção da alimentação saudável e para o fortalecimento dos mercados territoriais do município.

“Nosso objetivo é a construção de políticas públicas em que as comunidades, as organizações da sociedade civil, organizações comunitárias, movimentos populares possam, junto com a gestão do município, apontar caminhos para o enfrentamento a essa situação que tem acometido as comunidades da perda do patrimônio genético, com a perda da produção de alimentos saudáveis”, aponta Alex Federle, coordenador do projeto em Sergipe e secretário executivo do CDJBC.

Desafios
Entre os principais desafios destacados pelos participantes estão a necessidade de investimento em assistência técnica e a criação de espaços de comercialização para que haja o escoamento da produção. “Não adianta as políticas públicas serem anunciadas, se não há condições objetivas de elas serem instaladas. Para que o pequeno produtor, que disputa com o agronegócio, de fato consiga manter a agricultura familiar com uma diversidade de produção de alimentos precisa de uma série de fatores: incentivo, financiamento, assistência técnica. Caso contrário, a tendência é o agronegócio nos engolir, se implantar em nosso território, acabar com a produção de alimentos e manter apenas a monocultura”, destacou Mauro Cibulski, militante da Cáritas e da Rede Balaio.

Outro aspecto destacado pelos participantes foi a importância do investimento em financiamento e mecanização para o pequeno agricultor. “A tecnologia também tem que estar a serviço da agricultura camponesa para que possa dar mais suporte a estes agricultores e incentivar sua produção e produzir em uma escala maior do que se produz hoje”, destacou Damião Rodrigues, liderança do Movimento dos Pequenos Agricultores em Sergipe.

Denúncia: contaminação das plantações

Os participantes também denunciaram a contaminação das plantações e das sementes, sobretudo a partir da utilização de drones para despejo de agrotóxicos nas plantações de grandes produtores. “As famílias que ainda querem manter suas sementes livres de transgenia e dos agrotóxicos não estão mais conseguindo isso, porque mesmo que elas não usem, seus vizinhos usam, atingindo assim sua produção e suas sementes”, lamentou Maria José, agricultora familiar de Nossa Senhora Aparecida e representante da Coordenação Executiva da Articulação do Semiárido Brasileiro (Asa Brasil).

Estudo mostra crescimento da produção de alimentos não saudáveis 

O encontro também serviu para divulgar os resultados do estudo de caso no modelo pesquisa ação sobre a trajetória dos sistemas agroalimentares do município, que é fruto das oficinas do projeto realizadas anteriormente.

A pesquisa apontou uma queda média de 70% na produção de alimentos saudáveis entre 1990 e 2025. Enquanto em 1990 foram listados 56 itens produzidos sem agrotóxicos e outros aditivos, e apenas um não saudável, em 2025, foram identificados apenas 17 saudáveis e 20 não saudáveis.

Rede forte gera frutos 

Os participantes definiram ainda prioridades para a incidência política no município e no território para o próximo período (2025 e 2026), considerando as propostas do fórum multiatores e os espaços de participação social existentes.

Como fruto do trabalho em rede e de incidência política a partir das ações do Cultivando Futuros está a construção do Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. Alex Federle explica que já foi criada uma comissão para iniciar a construção do documento junto à gestão municipal.

“O projeto conseguiu ir além da proposta inicial de formular um documento com uma agenda prioritária para a incidência política no município no campo da agricultura familiar ser apresentado à gestão pública de Poço Redondo. Conseguimos efetivamente incidir na política pública municipal”, destacou Alex.

“Agora, as organizações devem tensionar para que venha um conjunto de medidas que viabilizem esses programas serem aplicados na produção de alimentos saudáveis”, destacou Mauro Cibulski.

Presenças

O encontro contou com a presença de 18 representantes da sociedade civil organizada, incluindo pequenos produtores, agricultores/as de diversas comunidades e organizações sociais, a exemplo da Articulação do Semiárido no Brasil, o Movimento dos Pequenos Agricultores, a Cáritas, a Rede Balaio e o Instituto Nacional de Inclusão Social (INIS).

Estiveram presentes também o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Clever Santana Rosa e a secretária de Agricultura, Igualdade Racial e Desenvolvimento Sustentável, Ariana Maria Costa, além de representantes da Secretaria de Educação, da chefe de gabinete do prefeito Josivaldo de Souza e da EMDAGRO.